domingo, junho 30, 2013

Manhã nas Aldeias do Açor

Programas para pedalar neste fim de semana era o que não faltava por estas bandas, mas nem sempre há tempo para tudo. Assim, de forma a aproveitar a manhã de domingo, decidi-me por uma voltinha para os lados da Serra do Açor.
Saí cedo, não tão cedo como o previsto, mas lá consegui sair um pouco antes das 8:00. Para não estar a gastar tempo e quilómetros nas imediações de casa, fui directo às Pedras Lavradas por alcatrão. Pouco mais de 30 Kms para aquecer as pernas e que ainda por cima deu para encontrar companhia a partir de Unhais da Serra, com dois companheiros da Coutada.


Nas Pedras Lavradas, local onda a Serra da Estrela e a Serra do Açor se tocam, local que também separa os distritos da Guarda e de Castelo Branco, separei-me destes companheiros e desci à Teixeira (de Cima).  Só depois da Teixeira é que entrei nas terra batida do Açor. Um caminho antigo que foi "requalificado" aquando da instalação dos aerogeradores em 2010.


Mas nele andei pouco. Apesar de por vezes nestas zonas não haver grandes alternativas, aqui deu para entrar no típico caminho de terra (na foto, o caminho da direita). Atrás de mim já  mais alto dava para ver as traseiras do restaurante das Pedras Lavradas, o único edifício no local. 


Mesmo à minha frente avistava a capela da Srª das Necessidades, mesmo no cimo do monte mais conhecido como Colcurinho. Um local que conheci em miúdo com os meus pais e que nunca esqueci a sua imponência. Talvez por isso já lá tenha passado umas poucas de vezes nestes últimos anos, umas vezes de bicicleta e outras a correr


A primeira visita estava apontada para as Balocas, uma pequena aldeia na zona mais a norte da Serra do Açor. Uma aldeia com os traços mais comuns das típicas aldeias onde predomina as construções em xisto, os socalcos mais conhecidos como calhadas, onde cada metro de terra foi em tempos precioso para a subsistência dos seus habitantes. 



Depois de duas tentativas em caminhos mais evidentes que eram simples acessos a um ou outro terreno, sobrou um outro mas que terminou em carquejas como se pode ver na foto abaixo. Alternativas nestas encostas são sempre muito poucas e na zona onde me encontrava tinha esgotado todas as possibilidades. A vontade de voltar atrás também não era muita, daí que optei por num dos caminho que me fez voltar atrás, pular a cerca e pelos quintais chegar à encosta das Balocas.



Um bocadinho à mão que por vezes também sabe bem, lá cheguei e entrei na aldeia. O barulho da água numa fonte é logo motivo para parar beber e atestar o cantil. Nestas alturas sabe melhor encontrar uma fonte assim que um tasco qualquer. Alias, se há agua que sabe bem é a agua destas nascentes que em dias de calor como este dão outro alento e dão um toque especial a estas vivências.



Atravessar a aldeia, faz-me lembrar a minha Benfeita. Boas recordações de miúdo....



Cada uma destas aldeias serranas acaba por ter sempre uma particularidade, algo que a torna diferente das outras, algo que fica na cabeça de quem as visita. A mim ficou-me na cabeça este pequeno recinto das festas. Não pelo recinto em si, mas sim pelas vistas para a Serra da Estrela que ele tem. Poucas terras se podem dar ao luxo de uma paisagem assim....


Meti conversa com as únicas duas pessoas que encontrei nas Balocas. Dois senhores que ali passavam,  que apesar de algum tempo à conversa tentei não empatar muito. Falei-lhes do caminho que trazia e logo me disseram que já tinha fechado há uns anos, apesar de ao longe parecer um caminho transitável. 


Com a orientação deles apanhei o caminho da "floresta". Um caminho bem bonito e cheio de sombra, que passa numa pequena mata por cima da aldeia. Nesta floresta também existe uma típica casa, antigamente habitada por guardas florestais. Confesso que sou "perdido" por estes edifícios. Além de serem casas  de traços simples, são bonitas e estão localizadas em locais lindíssimos, no meio da natureza, normalmente com vistas de cortar a respiração e sempre em locais com uma boa "bica" de agua.



À medida que ia progredindo o exercício normal, de olhar e identificar coisas e locais fazem a companhia. Ao longe, no meu limite visual avistava a Serra do Caramulo e o bem identificável Caramulinho, onde andaria neste dia o Mané. Hoje, cada um com sua serra.




A aldeia seguinte foi o Gondufo. Aldeia que deu nome ao marco geodésico bem no cimo deste monte. Local onde passei há uns tempos numa voltinha de Verão e que tem uma particularidade, ali se tocam 3 distritos, o da Guarda, o de Coimbra e o de Castelo Branco.


Engraçado como todas as aldeias daqui são como pequenos presépios, pelo menos vejo-as assim.




Deixei o Gondufo, rumo a outra encosta, a encosta que guarda o Piodão, a Chãs d'Egua e a Foz d'Egua. Mas a caminho pensava, o que visitar primeiro? Sempre ouvi dizer ao meu pai, que bem conhece esta zona, que antigamente para se ir às Chãs d'Egua e Foz d'Egua só mesmo a pé, pois a única estrada que havia terminava no Piodão e a partir daí era por um pequeno carreiro. À semelhança de terras como a Fornea, o Tojo, etc. Agora o alcatrão chega a essas mesmas aldeias e tem seguimento. 



Segui pelo caminho de terra que trazia na direcção das Chãs d'Egua. Muito comum por estes vales é também encontrar ruínas de pequenos aglomerados de casa, ruínas de pequenos lugares onde em tempos também morava gente. Se achamos as aldeias isoladas do mundo, imagine-se então locais como este da fotografia abaixo, afastados até dessas pequenas aldeias.



O caminho rasgado na encosta levou-me então a Chãs d'Egua.






Em Chãs d'Egua entrei em asfalto. Já por aqui tinha passado há muitos anos, mas pouco me lembrava disto. Recordava-me da pequena piscina no centro da aldeia, mas que me pareceu não ter muito uso.


Já depois da aldeia, e ainda em asfalto, olhei para trás e pareceu-me ver um caminho mais ou menos limpo. Voltei atrás e depois de galgar as protecções da estrada apanhei um pequeno carreiro que me levou ao tal caminho. Tinha muito bom aspecto e pela direcção tinha a pinta de ser o caminho de ligação ao Piodão.




E foi mesmo! Foi ter junto ao cemitério junto à entrada do outro caminho que desce para Foz d'Egua. 


Lá entrei Piodão "adentro", por entre as casas "fofinhas" e parei um pouco no largo em frente à igreja. Depois de um "turista" me contar quantos raios tinha cada roda, segui viagem. Para muitos é sempre mais importante falar de ferro e material que propriamente falar dos sítios por onde passamos e que locais que temos o prazer de apreciar.



O caminho que liga o Piodão a Foz d'Egua está mais arranjado que o de cima. Nota-se que tem manutenção com alguma frequência e como está identificado encontra-se muita gente a pé por ali.











E depois de uns 2 ou 3 Kms de descida por aquele acesso antigo, cheguei a Foz d'Egua. Local agora muito conhecido pela zona junto à ribeira do Piodão e pela ponte suspensa. 







A paragem seguinte foi em mais um ponto de agua, em Casas Figueiras, que mais se assemelha a um oasis tal é o prazer que dá beber agua tão boa e tão fresca quando o corpo a esta a pedir. Felizmente estava bem identificada. 



Estava na hora de almoçar e o dia já ia com mais de 70 Kms. O ponto de encontro com os meus, era na Barriosa. Seguiu-se um belo, animado e saudável almoço e para terminar o dia, um resto de tarde bem passado na praia fluvial de Unhais da Serra.