sábado, maio 30, 2015

Girabolhos



Mais uma vez o amigo Rodolfo, desafiou a malta para provar a pinga da ultima colheita. Mas tal como ano ano passado há que a merecer. 

No ano passado sofri a bem sofrer, não das pernas mas dos dentes. Este ano a minha logística foi idêntica, saí de casa mais cedo e fui ao encontro do grupo (desta vez em Valezim), pois para provar a pinga o Rodolfo diz que tem que se ir à torre apanhar ar fresco. E até estava bem fresco. 

Fomos provar o Adamastor ou seja a estrada do São Bento (o ter uma costela de Loriga faz com que as coisa tenham outros nomes, os verdadeiros nomes). Desde que se baptizou a subida da Portela do Arão para a Lagoa Comprida, que este nome tem assustado os ciclistas que por ali passam. Já nem o Homem da Marreta mete tanto medo. No entanto o chamado Adamastor começa a meio da verdadeira subida, que se pode chamar talvez..... come Adamastores :)Quem quiser encontrar o Homem da Marreta, o Homem do Saco e o Adamastor, os três de mãos dadas, tem de passar pela Vide, subir à Portela do Arão, Lagoa Comprida e Torre. Mesmo sem a primeira parte este já é um esticão merecedor da pinga. Por outros afazeres, a seguir à Torre eu desci para casa (tal como no ano passado). Com acho que mereci provar a pinga, logo por lá passo para beber a deste ano e a do ano passado (espero que ainda não tenha acabado).

domingo, maio 17, 2015

13ª Transportugal Garmin Race

(As fotografias que ilustram este "post" são as fotografias oficiais da Transportugal 2015, registadas pelo Pedro Cardoso.)



Mais uma vassourada na Transportugal. É um orgulho e ao mesmo tempo um privilegio fazer parte desta equipa que todos os anos ergue uma das melhores provas de BTT por etapas do mundo. Não sou eu que o digo, são as revistas internacionais da modalidade, são os experientes participantes que por aqui passam, são os feedbacks que nos passam pela frente....


As rotinas mantêm-se. Sim, há muito que se pode chamar de rotina não fosse já esta prova na 13ª edição.
Para mim também é uma semana que revejo muitos amigos, os da família do STAFF e outros tantos "repetentes" (participantes de outras edições). 
Este ano a acrescentar a essa lista, tinha mais três da cidade mais alta: o meu grande amigo Paulo Coelho (companheiro de muitas aventuras) com funções de controlo de prova e GPS na organização, o meu amigo Ricardo Cruto (das lides do BTT da cidade da Guarda) e o meu amigo Alexandre Guilhoto que é para mim uma referência nesta modalidade a vários níveis e que admiro muito. 



Aos poucos tudo se vai concentrando e orientando para se rumar a Bragança. 

As imagens que se seguem, reflectem o que pode ser chamado de dia  0. 

Já em Bragança, há que tirar as bicicletas dos sacos, montar, verificar, testar todo o material pois os próximos dias não vão ser muito exigente não só para os participantes como também para as bicicletas.






Preparar os GPS.....


Briefing.....



Dia 1: Bragança - Freixo de Espada à Cinta: 142 Kms


O primeiro dia a pedalar é sempre uma incógnita, há sempre muita ansiedade. De certa forma a ansiedade dos participantes acaba por ser contagiosa. Falo por mim pois à partida nunca se sei o ritmo que vou encontrar na cauda da corrida, tenho de estar preparado para andar, preparado para esperar, preparado para parar se for preciso. Na bicicleta também nada convém falhar e se falhar também é conveniente estar à altura de arranjar uma solução.


O dia começa cedo com a participação da Julie. Uma simpática atleta de 54 anos que há dois anos (se não estou em erro) fez Bragança - Sagres por estrada pois o seu marido Pat Dodge participava na Transportugal. Este ano vieram os dois em modo "participante".



Às 9:00 sai o ultimo grupo e no fim.... eu.


O grupo é grande e até passar a primeira meia hora, sinto sempre um pequeno desconforto, isto porque nos primeiros minutos acaba sempre por se passar alguma coisa. Ou porque alguém volta para trás porque não colocou o GPS a gravar, ou porque se esqueceu do telemóvel, ou porque algo não está bem apertado etc, etc. É o primeiro Km..... e aquela ansiedade que falava à pouco reflecte-se aqui.


E logo no primeiro troço de terra, aconteceu. Ia junto do Ronald Tweedie quando um suporte de cantil dele (daqueles que se prendem no espigão) partiu e caiu para cima da roda ficando entalado entre o quadro e o pneu. Felizmente, o Ronald foi daqueles que não "engonham" muito. Enfiou tudo num bolso do jersey e seguiu viagem.
Fiz alguns Kms com ele, a subida do dia também, até encontrar furado o Jonas Larsson, um sueco que já tinha participado em 2008 e que foi durante a edição deste ano um dos meus companheiros mais assíduos. 







Pedalar por Trás-os-Montes é sempre gratificante. As sombras pelo vale do Rio Maçãs, Caçarelhos (onde sabe sempre bem parar no café), são coisas que dentro deste percurso já as vamos antecipando.








Tal como Sendim e a calçada romana da Bemposta que fazemos sempre a subir. E foi depois desta parte, nos arredores de Tó que me apercebi de uma noticia ruim, o Ricardo Cruto tinha caído e fui dar com ele já na pick-up do Fael. Felizmente não foi nada de grave, mas a mazela impediu-o de continuar neste dia. 

O meu ritmo com o Jonas, não era de todo o mais rápido. No quarto CP encontrámos apeada (picada por uma abelha) a simpática Martha Lee (de Singapura) onde o Jonas também acabou por ficar. Com o Jonas fora de prova, o meu atraso para a nova cauda da corrida era enorme. Com pouco mais de 100 Kms percorridos subi para a pick-up do Fael e pouco mais pedalei. Talvez uns 4 ou 5 Kms na companhia do sul africano Bertus até este ficar também retido no ultimo CP.



Este ano avistar o Douro e a chegada ao Mazouco foi mesmo com a bicicleta às costas do que nas costas da bicicleta. Nunca tinha cruzado a meta de pick-up, mas há sempre uma vez para tudo.





Dia 2: Freixo de Espada à Cinta - Guarda: 113 Kms




O segundo dia é considerado por muitos participantes um dos mais bonitos de toda a prova. O porquê? A paisagem sobre o Douro, passagem por terras com história como Castelo Rodrigo e Almeida, os caminhos entre muros muito normais por aqui e...... a calçada de Santa Ana. Pois mas nesta edição não houve passagem por esta bonita calçada.

Foto tirada em edição anterior

Sem compreender o porque, neste local não foi permitida a passagem da prova. O que é que 90 bicicletas podem causar na sua passagem por aqui? A Natureza deve ser preservada, mas também deve ser vivida. Haja bom senso e haja sensibilidade suficiente para ultrapassar regulamentos de secretária elaborados por quem nunca fez uma caminhada ou pedalou pelo meio do monte. Cada vez que me deparo com uma situações destas, só me lembro da recente proibição da escalada na Serra da Estrela. A escalada que já por si não é um desporto massificado, tem um impacto mínimo no meio ambiente é proibida. Mas continua a permitir-se atropelos maiores à natureza causados pelo transito e pela falta de civismo que vemos por aí.

Mas voltando à Transportugal..... 


A saída como é normal neste dia, foi mais tarde. O ultimo grupo partiu à 10:00. Com a camisola de lider partiu a veterana Kate que já nos visita pela 4 vez. Logo atrás dela segue o Alex.


Saímos de Freixo rumo a Poiares, só não virámos para a calçada pois como já referi atrás este ano não foi possível. Continuamos a descer para a Ribeira do Mosteiro, onde passamos a linha de agua a pedalar.








Felizmente em Maio, o caudal é este. Se não o fosse a ginástica (ou a volta) seria maior. Que o diga o Miguel num dia de Março de 2010 quando ligamos a Guarda a Freixo de Espada à Cinta por aqui e a agua lhe ia levando a bicicleta.

O meu companheiro sueco do dia anterior o Jonas, hoje teria ficado muito desiludido. No dia anterior atrasou a sua desistência pois queria chegar à parte da calçada, pensava ele que a calçada de Santa Ana era no primeiro dia (somente viu a calçada da Bemposta). No dia seguinte também não passou pela calçada que tanto queria repetir, somente a pôde ver ao longe.



O inicio do dia foi feito com um amigo Sul Africano que fiz este ano (mas a viver em Londre), o Nicolaas. Este dia somente o acompanhei até Barca d'Alva, isto porque no inicio da subida encontrámos o Sérgio Campos. O ritmo era mais tranquilo e o Nicolaas foi andando.


Passámos o Douro e mudamos de paisagem, deixamos de descer passámos a subir, deixamos Trás-os-Montes entrámos na Beira Alta, deixámos o distrito de Bragança e entrámos no da Guarda.

O dia estava bem quente e a subida já se estava a fazer pela hora do calor. Como a demorámos a fazer passámos demasiado tempo enfiados naquele forno. Aquela subida (quente) fez muitos estragos. 
Quando chegámos a Figueira de Castelo Rodrigo, parámos logo na primeira pastelaria que encontrámos, onde estava mais malta parada. Depois de uma pausa e de beber uma agua das pedras fresca segui viagem com o Pedro Castro. O Sérgio optou por ficar e já antes tinha ficado no controlo por opção o TJ Duncan e o Jonas.

Começar a pedalar com aquele calor na casa dos 40 graus e saber da "rampa" para Castelo Rodrigo, era o que estava a custar mais. Mas lá se fez, que remédio. :)

Foto de Castelo Rodrigo (tirada daqui)



Mas vale sempre a pena este sofrimento. Lá em cima temos uma melhor perspectiva do que nos envolve. Começamos a sentir alguma brisa a arrefecer o corpo e a partir dali tudo é mais simples.




Mas Castelo Rodrigo e Almeida (o CP seguinte) ainda estão separados por cerca de 30 Kms. Esta zona já por si é quente, a hora a que a estávamos a fazer não era a mais indicada, logo aos poucos ia fazendo alguns estragos nos participantes e em mim também (claro). Para ajudar à "festa" pouco depois de Castelo Rodrigo eu e o Pedro Castro apanhámos a Martha Lee com um problema técnico, tinha partido o espigão do selim. O Pedro seguiu e entretanto já com o Fael ao pé de nós a Martha continuou a pedalar com a bicicleta que o Sérgio Campos (trazido pelo Fael) fez questão de emprestar. A Martha queria o problema resolvido e assim foi andando para não se atrasar. Em Almeida já o Fael nos esperava com a bicicleta da Martha pronta a rolar e já com um espigão novo. 

Vista Aérea de Almeida (foto tirada daqui)

O pior foi mesmo chegar a Almeida. Além do sofrimento trazido pelo calor, a posição mínima do espigão do selim da bicicleta do Sérgio era um pouco alta para a perna curta da Martha. Por vezes tinha de parar, andar até um pouco a pé pois ia ficando com dores nos joelhos.

Mas aos poucos lá fomos progredindo. Lá chegámos a Almeida, onde a Martha recuperou a sua bicicleta, descemos ao Côa e fizemos mais uma subidinha.




Desde Castelo Rodrigo que se respira muita história do nosso país. A passagem por Almeida faz-nos sentir o mesmo. Em 30 Kms passámos por muralhas e ruínas medievais dos tempos de D. Afonso Henriques e D. Sancho I, e por fortalezas que defenderam Almeida das invasões francesas à pouco mais de 200 anos atrás.


Recriação do Cerco a Almeida de 1810 (fotos tiradas daqui)


O tempo foi passando e o ritmo não era o mais favorável para se conseguir ultrapassar os CP's antes do fecho. No CP pouco depois de Leomil a Martha teve de entrar na pick-up, pois tinha ultrapassado o tempo de fecho. Eu também estava muito atrasado em relação ao novo ultimo que já tinha passado à mais de uma hora. Lá tive de subir para a pick-up tb. Com isto "safei-me" de 20 Kms, e a subida ao Jarmelo, pois só aí voltei ao trilho. 





Ainda tive a oportunidade de pedalar novamente com o Nicolaas (como tinha sucedido de manhã) e com o Eduardo Llach, um amigo norte americano com quem já tinha pedalado no ano passado por terras alentejanas.


E eis que chegámos à cidade mais alta de Portugal, a Guarda. Dava para perceber que o calor tinha feito muito estrago em muita gente. O dia seguinte é o da Serra da Estrela e este pessoal teria de recuperar muito bem. Por aquelas terras onde passámos hoje, já por lá apanhei grande empenos, uns ao frio e outros com muito calor também. No entanto acho que não me lembro de chegar à Guarda tão "estragado". Provavelmente foram muitas horas ao calor, demasiado tempo a um ritmo que não era o meu. Mesmo com os 20 Kms feitos de pick up, cheguei à Guarda bem "destruído".

Com isto a Kate voltava a ganhar mas o Alex continuava a morder-lhe os calcanhares (como se costuma dizer).



E depois de um bom jantar, e como o dia 3 não é "pêra doce" antes de ir à cama, ainda fui sofrer um bom bocado nas mãos do meu amigo Rui Queixada. Uma segunda tareia nas pernas e nas costas que me deixam a dormir bem relaxado e a acordar "novo". ;)



Dia 3: Guarda - Penhas da Saúde: 95 Kms


O terceiro dia de prova este ano tem uma novidade. Uma pequena alteração que num dia soalheiro como este não faz grande diferença, mas se fosse num dia "invernoso" o corpo agradece. Nas ultimas edições assim que nos Kms finais a prova chega aos Piornos ainda restava descer a Unhais da Serra. Uma descida longa onde já sofri e já vi sofrer a bem sofrer, quando o tempo está mais agreste. O vale é um autentico funil onde o vento canaliza e acelera muito facilmente. Na 10ª edição, por exemplo comecei na Guarda a pedalar de casaco e na Santinha cheguei a vestir o impermeável, isto na mesma altura do ano, Maio.

Recordo-me no ano passado (para dar uma ideia do que é vento por aqui) de em Janeiro apanhar um vendaval que me atirou para o chão.  Nesse dia registei estas imagens:



Mas este dia de hoje, estava de feição para esta etapa, temperatura amena logo pela manhã, pouco vento e ausência de chuva.

Foto: António Lages

Não estivesse eu na minha cidade, de manhã ainda deu para estar um bocadinho com os meus pais, antes de "partir" para a serra.

Foto: António Lages

O meu companheiro do inicio do dia foi novamente o Sérgio Campos. Fomos ao Alvendre, subimos ao Barrocal e descemos a bonita calçada romana do Tintinolho. Bonita? As imagens falam por si!




Durante a descida ligou-me o António Malvar a dar indicação para eu esperar pois estava um atleta para trás, penso que ter-se-à enganado, saindo fora do percurso e quando eu passei ainda ele não estava a fazer o percurso correcto. O Sérgio continuou e com uma vistas destas, esperar não é sacrifício nenhum, somente nos põe a fazer mais contas de como será o resto do dia. 







Era o Bertus que acompanhei o resto da descida, a passagem do Mondego na praia fluvial de Aldeia Viçosa e na subida seguinte, por aqui conhecida como "rainha". Uma boa subida.

Com alguma queixa de dor nos joelhos o Bertus sofreu na subida acabando por ficar em Videmonte. Deixei-o tranquilo no café Santiago, porto de abrigo muito importante por estas bandas. Eu segui até encontrar a Martha Lee já quase na estrada de Linhares.



Com a Martha, subi aos Galhardos, passei na Portela de Folgosinho, percorremos aquele fantástico asfalto (estou a gozar) que liga o Covão da Ponte a Folgosinho, subimos à Santinha e chegámos à estrada nacional que liga Manteigas a Gouveia.

A Martha gostou bastante destas paisagens. Esta etapa é muito bonita, sei que é o meu "quintal", mas a verdade é que a consigo apreciar sempre que por aqui passo. As imagens seguintes falam por si.






A Martha chegou ao segundo CP, muito atrasada e com o CP já fechado. O ultimo a passar já tinha passado há bastante tempo. Hoje eu não ia ter tempo de parar nos meus amigos D. Judite e Sr. Roberto para comer a minha sandes preferida. 



Sozinho desci a Manteigas. O António tinha-me dito para o fazer por asfalto, pois já não havia ninguém no percurso por ali. No entanto já não era a primeira vez que eu estando com muito atraso, desci rápido a tempo de arranjar companhia durante a longa subida para os Piornos. Durante a descida ainda atalhei por terra em duas situações, onde garantidamente encurtava a descida e passava num local com agua fresquinha (praticamente na Cruz das Jogadas).

Mas o atraso era muito. Assim que cheguei ao CP do Armindo, junto ao Rio Zêzere em Manteigas o Armindo que o ultimo tinha passado há praticamente uma hora. Desta forma, apesar da vontade em fazer o que faltava, tivemos de engendrar uma maneira de eu apanhar mais uma boleia, porque senão, dado o atraso era eu que ia atrasar toda a logística do fim do dia. 








O "Mindinho" deixou-me assim nos Piornos, onde encontrei o meu pai e ainda estava malta a passar. Como tinha indicação de quem era o ultimo, comecei a descer até o encontrar. 


Chegados aos Piornos, não descemos a Unhais da Serra como nas edições anteriores. Virámos à esquerda para fechar o dia nas Penhas da Saúde.








Dia 4: Penhas da Saúde - Castelo de Vide: 166 Kms


A nova etapa 4, liga as Penhas da Saúde a Castelo de Vide. Uma etapa aparentemente fácil, mas o calor e a Serra da Gardunha pela frente, anunciava um dia longo.
Nestes dias, perante o papel que tenho na prova não me afligem os dias longos, mas sim as paragens demoradas, devido a enganos/distracções, avarias, etc.... Até nisso o dia foi rico.




Se a partir da segunda etapa já posso chamar as terras por onde passámos de "meu quintal", o dia 3 e o dia 4 são à porta de casa. A descida para para o Alto da Portela (Tortosendo) não foi tão rápida quanto eu desejava. A primeira paragem deveu-se à grande distracção do Ronald Tweedie e do Bertus que durante a descida não mudaram de direcção no sitio certo e quase desceram para as Cortes do Meio. Só aqui o atraso já foi considerável. Não os tive ao pé de mim muito tempo. Isto porque quando voltámos ao caminho certo apanhei parado (apeado) o holandês Marcel Lambregts. Tinha destruído um pneu e o Ricardo Machado (motard/mecânico/humorista) estava a caminho com um novo.





O Marcel Lambregts, tinha destruído um pneu e o Ricardo Machado (motard/mecânico/humorista) estava a caminho com um novo. 

Parados no Pião, o tempo que lá estivemos parados recordo-me da conversa curiosa que tivemos. Ele olhava para a minha bicicleta e perguntava-me se era de titânio. Ao lhe responder afirmativamente, elogiou a montagem e perguntou-me se a marca era portuguesa. Ora a Van Nicholas é nada mais nada menos que holandesa, a nacionalidade dele. A conclusão que tiro é que na Holanda têm tanta coisa, que nem sabem tudo o que se produz por lá. 
(Só um pequeno à parte, eu nunca tinha ouvido falar na marca da bicicleta dele também :) )



Assim que o Ricardo chegou e resolveu o problema ele começou logo a correr atrás do tempo perdido. Entre o Pião e o Alto da Portela, passando pela Quinta do Mineral foi sempre a abusar. Eu só pensava, será que queria destruir outro pneu? É que o terreno aqui é propicio a isso.



Mas correu bem! Atravessámos a estrada nacional, onde alguém conhecido me disse qualquer coisa, mas confesso que com o Marcel a fugir e com a cabeça chocalhada da descida nem descobri quem era. 
Mais uma subida até ao marco da Cabeça Alta e de seguida mais uma descida violenta até ao Peso. E foi no Peso que troquei de companhia por uma mais tranquila, o Bertus que estava no café.


O calor já apertava bem e assim que nos chegávamos lentamente à Gardunha ia piorando. A subida para o Souto da Casa já dava para prever o difícil que ia ser o resto do dia. Já no Souto da Casa, tínhamos algum aparato no CP, isto porque problemas de saúde com o canadiano Jean Halle, obrigaram por precaução à intervenção do INEM. O Jean foi transportado para o Hospital Pêro da Covilhã e o Bertus decidiu terminar por ali o seu dia. Com tanto atraso e tanto percalço o novo ultimo estava uma hora à nossa frente e no meio da Gardunha. 








Obrigatoriamente tive de saltar a Gardunha. O amigo Fael foi deixar-me em Alcongosta (no CP do Rui e da Maria) onde passado pouco tempo estava a malta do fim a passar por ali, vindos pela calçada romana. O sol aqui já picava e bem. Os que chegavam enfiavam-se logo na agua da fonte.

Formou-se então o grupo do fim que iria ser a minha companhia, a Martha Lee, o TJ Duncan e o Nicolaas Jacobs. Também o Ronald Tweedie ali estava, mas não quis continuar. Como o Nicolaas tinha um problema na bicicleta, o Ronald cedeu-lhe a dele após a troca das placas.




Os quilómetros até chegar aos arredores de Castelo Branco, demoraram a passar. O calor não dava descanso e assim que chegámos à Sra de Mercoles estava tudo para apear por ali a juntar ao outro grupo maior. Mais uma vez o "novo ultimo" já estava bem longe e fazia-se tarde....

Por indicação do António o Alfredo foi colocar-me no CP antes de Vila Velha de Rodão. Saltei assim a parte do Rio Ponsul, que normalmente se fazia quando vínhamos de Monfortinho. A partir aqui era o mesmo trajecto dos anos anteriores. 

No CP estava o  Robert Viljoen, que normalmente não gosta muito de me ver e não disfarça nada. Situação que respeito e tento não perturbar, dando o espaço necessário. Mas eu tinha de esperar pela Julie Laboucane, uma simpática atleta que com os seus 54 anos não cede à dureza do dia 4.




Pelo andar da carruagem, pensava eu que os quase 50 Kms que faltavam, deste dia que se mantinha quente, iriam ser uma seca, com muito "para/arranca", etc. Eram 5 da tarde de um dia não muito fácil e esta ultima parte do percurso é tendencialmente a subir, não terminasse o dia em Castelo de Vide e nós estávamos à beira do Rio Tejo.

Mas o bom disto tudo é que o ritmo da Julie não era forte e muito menos fraco, mas acima de tudo um ritmo muito homogéneo, não tivesse esta rapariga muitos Kms nas pernas. Recordo-me bem dela numa edição anterior enquanto o seu marido fazia a prova ela em vez de ir nas carrinhas para o final da etapa, fazia as ligações em bicicleta de estrada, tendo feito também o seu Bragança-Sagres, mas de forma alternativa. Este ano o marido decidiu participar outra vez (Pat Dodge) e ela decidiu participar tb. 

Enquanto pedalávamos mostrava-se preocupada com o dia seguinte e a falta tempo para recuperar. Pois entre chegar tarde, tomar banho, jantar, lavar roupa, preparar o dia seguinte, massagem, etc.... o tempo ia ser pouco. Por varias vezes ponderou desistir somente para ganhar esse tempo, mas assim que passámos o ultimo CP, não lhe voltou a passar isso pela cabeça e o dia era mesmo para levar até ao fim.

Na rampa de Salavessa aquela que nunca vi ninguém a fazer montado (se bem que há rumores de já o terem feito), encontramos mais dois atletas britânicos o Tristram Bishop e Marzena Bogdanowicz, mas que na zona de Povoa e Meadas nos deixaram para trás.



Para terminar o dia.... entra-se em Castelo de Vide pela "porta do cavalo" o que implica subir a bonita calçada. Epá, mas eu gosto disto :)
E o que dizer da rijeza da Julie? Ela que é das primeiras a sair de manhã chegou à meta após 13 horas e meia a pedalar. Mas não se julgue que cruzou a meta desesperada. Nada disso! Foi sempre no ritmo dela, certinho. Basta dizer que fez a calçada sempre em cima da bicicleta. Como diria o meu amigo Currais.... potentissimo. Grande Julie.



Obviamente estas fotos não são da altura da nossa chegada, pois cruzamos a meta às 9 da noite. Dia longo..... que antecede o dia da etapa maior com quase 170 Kms. Foi noite de "descansar à pressa". Mas como raio se faz isso?



O dia lá na frente também correu muito bem para o meu amigo Alexandre que já merecia esta recompensa. Após ter ficado em segundo na etapa de hoje (ganha pelo Marco Macedo), subiu à liderança da prova.


Dia 5: Castelo de Vide - Évora: 171 Kms



Apesar do dia de ontem ter sido meio destrambelhado, com muito para/arranca, anda devagar, anda depressa, etc. Apesar de me ter deitado quase à uma da manhã e ter descansado pouco, até acordei "fresco".



Este quinto dia é da etapa mais longa, onde praticamente se pedala 170 Kms. Os primeiros 25 kms, são os mais dolorosos, com partes técnicas, subidas íngremes, calçadas medievais, etc... O mais normal é estar às 10 da manhã a ver tão poucos Kms percorridos e pensar a que horas se vai chegar a Évora. Mas felizmente o percurso melhora a partir do primeiro CP. Piso bom, caminhos rápidos e também algum (inaceitável) alcatrão.  





Mas esta parte inicial é sem duvidas, uma das mais bonitas do dia, com a bonita calçada e a vista sobre Castelo de Vide.

O amigo Alex, arrancou para esta etapa sem o habitual equipamento, não estivesse ele a liderar a prova nesse momento.



Andei os primeiros Kms com o Nicolaas, por vezes com o TJ e outros até que encontrámos a Martha e ficámos só os dois. A companhia não durou muito. Pelo caminho apanhámos o Paulo Moura. Infelizmente o Paulo teve uma queda aparatosa durante uma descida e estava um pouco mal tratado com dores. Quando chegámos junto dele já a ambulância lá estava. Entretanto a Martha decidiu para por ali também e eu segui sozinho até ter nova companhia.



Depois de uns Kms sozinho, numa paragem para beber uma agua das pedras, estão no café o Jonas e mais três. Já tinha assim, a companhia para o resto do dia. Os Kms foram passando e já passava dos 130 Kms quando encontramos parado à sombra de uma árvore o Robert Viljoen. Para variar lá torceu o nariz quando nos (me) viu chegar. Mas senti-o um pouco desesperado, pois ainda faltava mais de 30 Kms para o fim da etapa. Disse-lhe então para estar tranquilo, pois esses próximos eram os mais planos de toda a Transportugal. O antigo ramal ferroviário Évora - Mora agora transformado em ciclovia é uma grande ajuda neste final de dia. O Jonas continuou no seu ritmo e o Robert (que estava cansado) fugiu.....








E chegámos a Évora (arredores), contornámos a cidade na direcção do hotel. Tudo tranquilo. O Robert Viljoen que já lá estava quando chegámos, agradeceu o ânimo. Foi a partir desta etapa que sempre que nos encontrámos ele já não fazia aquela cara enfadada, do tipo "já aqui está outra vez.....".




O pouco que sobrou deste dia, foi par relaxar à beira da piscina, repor energias e esperar pela janta que estava magnifica.





Dia 6: Évora - Albernoa: 105 Kms


Depois de dois dias longos, quentes, com noites mais curtas e cheios de Kms, o sexto dia começou mais tarde. Com a partida marcada para as 11:00, deu para dormir mais um pouco. E que bom que foi, pois este hotel (Ecorkhotel) é dos mais tranquilos e confortáveis.


O dia a pedalar também é curto. Somente 105 kms e sem grande dificuldade relevante. Dificuldade, só mesmo o calor. 







O dia começou a correr muito bem. Andei com as minhas companhias do costume e os primeiros 50 Kms passaram num instante. Cheguei a pensar que o dia iria acabar mais cedo. Mas quando estava a chegar à linha do comboio às portas da Cuba encontrei o Jorge Damas. Algo não estava bem com este companheiro, pois em dia algum o vi durante a prova. O andamento dele era muito baixo e notoriamente ele não estava bem, coisa que o próprio confirmou. O dia não lhe estava a correr bem, sentia-se mal e sem conseguir comer ou beber.

Saímos do percurso para entrar na Cuba. Disse o Jorge que a fruta poderia ser a solução para conseguir comer alguma coisa. Atravessámos Cuba e demos com um supermercado Mini Preço. Entrou e trouxe umas meloas fresquinhas. Mas que bem que souberam comer aquelas meloas docinhas, frescas à sombra de uma árvore num dia tão quente.

Obviamente aquele petisco deu um novo alento. Seguimos viagem, mas ainda antes de sair da Cuba, entrámos num café para compor o organismo com uma agua das pedras fresquinha e um pingo de groselha. 








Nas calmas, fomos progredindo no terreno. Chegámos a Albernoa bem e o Jorge passou em todos os pontos de controlo, classificando-se assim nessa etapa também. 







Etapa 8: Albernoa - Caldas de Monchique: 140 Kms


Grande etapa esta! A forma mais bonita e dura de entrar no Algarve!




Os primeiros Kms são passados nas vinhas dos arredores do Hotel Vila Galé Clube de Campo, que nos proporcionam um bom andamento e umas imagens fantásticas.







Cedo tive a companhia do Nicolaas. 






Depois das planicies alentejanas, começamos a chegar-nos à zona montanhosa. Começa pela abordagem à Barragem do Monte da Rocha e logo a seguir a bonita Barragem de Santa Clara.





Este Alentejo é de cortar a respiração....






Mas a respiração fica mais difícil logo a seguir, quando temos de ultrapassar o Espinhaço de Cão para finalmente entrar no Algarve.
Mas esta etapa não se fica por aqui. Os últimos 40 Kms desta etapa de quase 140, são os piorzinhos do dia. Junta-se ao terreno difícil, a falta de água e o calor, se bem que este ano não foi o mais difícil de todos, pois calor havia, mas nada de preocupante. 




Seguem-se as Caldas de Monchique por uma descida bonita, por entre o arvoredo. Estamos a 1 dia do final..... a saudade desta rotina começa a apertar a toda a gente....







Etapa 8: Caldas de Monchique - Sagres: 99 Kms



O ultimo dia da prova....
A etapa pode parecer fácil, mas não deixam de ser 100 Kms, com algum sobe e desce. A zona mais bonita é sem duvida depois da Carrapateira, onde pedalamos com uma vista magnifica para o mar.

Ficam as imagens.....
























Cheguei à meta com a Martha. A festa já tinha começado há umas horas, faltávamos só nós para a foto final, para o mergulho e para depois começar com o ritual de desmantelamento de mais uma edição. 







Os três lugares do pódio foram ocupados pela Kate (1º lugar), Alex (2º lugar) e Marco (3º lugar). Grandes atletas!!! 


Terminou assim mais uma espectacular Transportugal.